Hoje lembrei daquele cara que passava pelo mesmo caminho que hoje eu passo.
Lembro de seus passos e era curiosa a sua maneira complicada de percorrer os caminhos simples; parando a cada curva a examinar as fendas no asfalto procurando sementes de qualquer-coisa-que-por-ventura-tenha-nascido ali. Ele sempre intrigado quando alguém o repreendia - pelo caminho - dizendo que não se podia chamar de jardins, lugares que só tem capim, e ele respondia perguntando: "De onde vieram as primeiras *flores?".
Nos jardins, ele procurava qualquer pedra de asfalto que fosse, qualquer que as flores tenham detido do despedaçar dos carros que passam. Os jardins de beira de estrada podem, sem querer, ser feridos sim, por pedras jogadas pelos automóveis.
Ele era um herói porque pegava sua garrafa d'água e banhava as plantas, não necessariamente flores, desobstruindo os estômatos de suas folhas dando a elas a chance de respirar, contra o querer da poeira jogada também pelos automóveis. Assim, ele próprio ficara empoeirado diversas vezes.
E por quê não dizer que ficaria ainda empoeirado muitos dias? E quem sabe, então, dizer que em algum lugar por aí esteja aguando flores, protegendo sem querer os espinhos que o seu futuro espetarão - por que o que é uma rosa, por exemplo, sem espinhos? O que seria desse rapaz sem a vontade de acariciar seus espinhos? Pois os espinhos são as unhas das flores que tem unhas. As outras flores roem suas unhas, por isso, é claro, não tem espinhos.
*Segundo a botânica, flores são simplesmente folhas modificadas.
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